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PREFÁCIO

Na conclusão do terceiro capítulo do livro Escola e democracia destaquei a importância da contribuição dos professores no desenvolvimento teórico e na implementação prática da pedagogia histórico-crítica. Observei, então, que o desenvolvimento e a eventual retificação das ideias expostas implicavam sua confrontação com a prática pedagógica na sociedade brasileira atual. Convidava, em consequência, os professores a submeterem a referida proposta pedagógica ao crivo da prática que desenvolvem. Lembrava que a referida proposta aponta na direção da superação do problema da divisão do saber, que é a base das disciplinas que compõem os currículos escolares. Entretanto, como foi pensada para operar nas condições da sociedade brasileira atual, seria necessário verificar o grau em que ela se aplica aos diferentes níveis e modalidades de ensino em que se reparte a educação brasileira. E exemplificava afirmando que um professor de história, de matemática, de ciências, de estudos sociais, de português ou de literatura brasileira etc. deve contribuir, na especificidade de sua respectiva disciplina, para a democratização da sociedade brasileira tendo em vista o atendimento dos interesses da população e a transformação estrutural da sociedade. E a referida contribuição fundamentalmente consistiria na instrumentalização de caráter histórico, matemático, científico, literário etc., que o professor deve assegurar aos alunos.

Desde 1983, quando o referido livro foi publicado, a pedagogia histórico-crítica vem se desenvolvendo num processo de construção coletiva da teoria e de suas aplicações empíricas avolumando-se as contribuições que se estendem pelos diferentes aspectos da educação desde seus fundamentos filosóficos, psicológicos e didáticos alcançando os aspectos da teoria do currículo e da organização do trabalho pedagógico cobrindo os diferentes níveis e modalidades de ensino. Esse avanço teórico foi sendo, por sua vez, testado por experiências concretas representadas pelas tentativas de implantação da pedagogia histórico-crítica em redes públicas de diferentes municípios de vários estados da federação brasileira.

O referido processo atinge, agora, a discussão e formulação dos elementos relativos às disciplinas que compõem os currículos escolares objetivando-se na presente obra coletiva cujas organizadoras fizeram a gentileza de me convidar para prefaciar.

Trata-se de um trabalho de grande envergadura efetuado por trinta autores que busca cobrir todo o espectro dos componentes curriculares correspondentes às disciplinas ensinadas na educação básica com ênfase na educação infantil e ensino fundamental, guiando-se pela perspectiva teórica histórico-crítica e tendo como base prática o processo de implantação da pedagogia histórico-crítica na rede municipal de ensino de Cascavel no Oeste paranaense.

Após a apresentação da obra pelas organizadoras, as professoras Cláudia Pagnoncelli, Julia Malanchen e Neide da Silveira Duarte de Matos, a coletânea se abre com um estudo de Julia Malanchen (capítulo primeiro) sobre “As diferentes formas de organização curricular e a sistematização de um currículo a partir da pedagogia histórico-crítica”, começando pela discussão das diferentes orientações curriculares a fim de diferenciar as perspectivas que vêm circulando atualmente da orientação preconizada pela pedagogia histórico-crítica. Para tanto, explicita os fundamentos filosóficos do materialismo histórico e expõe a concepção histórico-crítica de currículo.

Na sequência, Lígia Marcia Martins nos brinda com uma análise percuciente articulando os fundamentos da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica, esta fornecendo a base pedagógica da psicologia histórico-cultural que, por sua vez, se constitui na base psicológica da pedagogia histórico-crítica. Em anexo, apresenta um elucidativo glossário com o significado dos principais conceitos integrantes do léxico da psicologia histórico-cultural relacionados com o processo de ensino.

No terceiro capítulo Alessandra Arce esclarece, tomando como referência a psicologia histórico-cultural e a pedagogia histórico-crítica, a necessidade e importância do ensino, ou seja, da sistematização das atividades pedagógicas a serem realizadas com as crianças na educação infantil abrangendo a faixa etária do zero aos cinco anos, dando preciosas indicações sobre o caminho metodológico para o trabalho educativo com as crianças pequenas.

Os sete textos seguintes são dedicados aos diversos componentes do currículo abordando o ensino de história, geografia, ciências, matemática, língua portuguesa, arte e educação física.

O capítulo quarto, de autoria de Rozangela Maria Casagrande, Amilton Benedito Peletti e Eraldo Leme Batista, trata do ensino de história centrando-se na discussão do sentido e importância do conhecimento da história na educação básica, ministrado de acordo com a perspectiva teórico-metodológica crítica tal como preconizada pela pedagogia histórico-crítica.

No capítulo quinto, Sandra Macanhão Biavatti e Jaqueline Miliavaca Wielewski trazem importantes indicações aos professores sobre o ensino da arte na educação básica abordando as várias manifestações artísticas como a música, dança, artes visuais e artes cênicas.

O ensino de geografia, abordado no sexto capítulo, foi elaborado por um grupo composto por Ângela Massumi Katuta, Edenir Theresinha Souto Conselvan, Irani de Oliveira Cordeiro, Julsemino Siebeneichler e Vera Bier trabalhando coletivamente com os educadores da Rede Municipal de Ensino de Cascavel. O objetivo foi indicar os elementos que devem ser levados em conta no ensino de geografia para alunos da educação básica, com ênfase na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Partindo da pergunta: por que ensinar geografia na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, destaca-se a importância do domínio da noção de espaço, o que conduz à afirmação da interdependência da aprendizagem dos conhecimentos geográficos e a representação do espaço pela cartografia. Com base nessa constatação apresentam-se os elementos que devem ser levados em conta no ensino da cartografia e da geografia na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental.

O capítulo sétimo, de autoria de Angelita Machado Brizola, Carmen Regina Nicole e Celso Aparecido Polinarski, versa sobre o ensino de ciências. Baseando-se nas contribuições da psicologia histórico-cultural, em especial na periodização do desenvolvimento humano, os autores apresentam indicações para o trabalho dos professores de ciências na perspectiva histórico-crítica destacando a questão da apropriação dos conceitos.

No capítulo oitavo, o grupo formado por Carolina Picchetti Nascimento, Matilde Costa Fernandes de Souza, Indialara Taciana Rossa, Ana Cristina Gottardo Bus e Eliane Theinel Araújo Silva dedica-se ao exame da contribuição da educação física para a realização do papel social da escola especificamente no âmbito da educação infantil, destacando a importância do jogo protagonizado e concluindo com a apresentação de sugestões metodológicas para a organização do jogo na educação física infantil.

O capítulo nono, Francielly Lamboia Giaretton, Leonete Dalla Vecchia Mazaro e Santa Otani, tratam do ensino da matemática nas séries iniciais do ensino fundamental na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Após esclarecer o significado da abordagem histórico-crítico do ensino da matemática, as autoras destacam a geometria, esclarecendo sua origem, significado e apresentando sugestões para a organização e realização do ensino de geometria.

Finalmente, no capítulo décimo, Silmara Siqueira Batistel, Margarete Chimiloski Dolla, Angela Maria Junges e Nereide Adriana Miguel de Santana tomam como objeto o trabalho pedagógico na disciplina “Língua Portuguesa” examinada sob o enfoque da pedagogia histórico-crítica. Trazendo elementos para o entendimento da problemática da linguagem com base em Bakhtin, as autoras apresentam, fundamentadas na proposta teórico-metodológico da pedagogia histórico-crítica, sugestões de práticas pedagógicas tomando como fio condutor o subtema “o trabalho na sociedade capitalista”.

Pelo conteúdo deste livro, que indiquei sumariamente neste prefácio, vê-se que se trata de uma obra que toma os componentes curriculares correspondentes ao ensino na educação básica com ênfase na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, apresentando encaminhamentos para a organização e realização do trabalho educativo na perspectiva da pedagogia histórico-crítica. Seu alvo preferencial, portanto, são os professores não se tratando, em consequência, de um material para uso dos alunos. O campo empírico do qual se originou esta produção é, fundamentalmente, a iniciativa da rede municipal de ensino de Cascavel de reorganizar o currículo de suas escolas e orientar o trabalho pedagógico nas diferentes disciplinas tendo como referência teórico-prática a pedagogia histórico-crítica. Poderíamos, pois, afirmar que o conteúdo deste livro corresponde a uma primeira aproximação ao complexo processo curricular de caracterização das disciplinas, definição de seu conteúdo e orientação do trabalho pedagógico com cada disciplina na implantação da pedagogia histórico-crítica nas redes públicas de ensino com os conhecidos limites decorrentes da precariedade que caracteriza a educação brasileira. Representa, entretanto, um importante avanço. Por isso, além de ser lido por todos os professores, deve ser continuado, ampliado e aperfeiçoado por novas iniciativas que nos aproximem cada vez mais de um ensino público qualitativamente significativo que assegure a todas as crianças e jovens de nosso país a apropriação dos conhecimentos produzidos pela humanidade nas suas formas mais ricas. É este, com efeito, o objetivo perseguido por todos nós que nos alinhamos com os pressupostos, finalidades e metodologia da proposta pedagógica histórico-crítica.

 

São Paulo, 31 de julho de 2016

Dermeval Saviani.


 

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